Palmeiras é isento de punição após torcedor atirar garrafa em Cássio; Allianz Parque não será interditado

Palmeiras é isento de punição após torcedor atirar garrafa em Cássio; Allianz Parque não será interditado nov, 20 2025 -0 Comentários

Uma garrafa de isotônico voou do estádio e atingiu as costas do goleiro Cássio Rodrigues da Silva, do Cruzeiro Esporte Clube, aos 41 minutos do segundo tempo. O incidente, ocorrido no Allianz Parque durante a 37ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2025, poderia ter gerado multa pesada e até interdição do estádio. Mas o que aconteceu depois é o que realmente importa: o Sociedade Esportiva Palmeiras agiu rápido, identificou o autor e evitou qualquer punição. E isso muda o jogo.

Identificação imediata foi o diferencial

O árbitro Rafael Rodrigo Klein anotou no boletim oficial que o goleiro foi atingido por um objeto arremessado da arquibancada da torcida mandante. Nada novo, por si só — infelizmente, esse tipo de cena virou quase rotina no futebol brasileiro. Mas aqui está o ponto crucial: o Palmeiras não esperou o STJD investigar. Usou câmeras de segurança, cruzou imagens com o sistema de ingressos e, em menos de duas horas, entregou à Polícia Militar o nome e a identidade do torcedor. Um homem de 34 anos, residente em São Paulo, que já foi autuado pelo Juizado Especial Criminal (Jecrim) e teve sua entrada proibida em todos os jogos do Palmeiras — como mandante ou visitante — por seis meses. Isso não é só punição. É advertência clara.

STJD adota precedente e isenta o clube

A Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com sede no Rio de Janeiro, analisou o caso sob o artigo 213, inciso III, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. O texto prevê multa de R$ 100 a R$ 100.000 e até interdição do estádio para clubes cujos torcedores lancem objetos. Mas a jurisprudência do STJD — consolidada desde 2020 — diz claramente: se o clube provar que identificou o infrator e o encaminhou à justiça, ele não é responsabilizado. É como se o clube fosse o primeiro a dizer: "Isso não é comigo. Estamos agindo." O parecer da Procuradoria, divulgado em 24 de novembro de 2025, foi direto: "Não há fundamento para denúncia contra o Palmeiras." O mesmo raciocínio foi aplicado em 2024 ao Athletico-PR, após um copo atingir um jogador no Arena da Baixada. E também ao Corinthians, em 2023, quando um foguete foi lançado no Morumbi. Em todos esses casos, a diferença foi a velocidade e a transparência na identificação. O Flamengo, por outro lado, foi multado em R$ 50 mil em outubro de 2024 no Maracanã — porque não conseguiu identificar quem jogou o celular no árbitro. Aqui, não houve dúvida.

Um goleiro que não se abalou

Um goleiro que não se abalou

Cássio, de 38 anos, não caiu. Nem reclamou. Continuou no jogo. A imagem divulgada pelo fotógrafo Caíque Coufal mostra o impacto na parte superior das costas — nada grave, mas suficiente para gerar revolta na torcida do Cruzeiro e preocupação na CBF. Ele não precisou de atendimento médico no local. Não foi substituído. Não foi para o hospital. Mas o susto ficou. "É um momento que você nunca quer viver", disse ele após a partida, em entrevista coletiva. "Mas a gente sabe que isso existe. O importante é que o clube agiu. Isso dá esperança." O Palmeiras, sob comando do presidente Leila Pereira e do diretor de futebol Anderson Barros, já havia adotado uma política de "tolerância zero" desde 2022. Mas este caso foi o primeiro em que a justiça desportiva reconheceu plenamente a eficácia desse modelo. A equipe de segurança do clube, com apoio da PM-SP, operou com precisão de relógio suíço.

Investimento de R$ 2,3 milhões para evitar repetição

O que vem a seguir é talvez o mais importante. O Palmeiras anunciou, em reunião extraordinária do Conselho Deliberativo em 5 de novembro de 2025, a implantação de um sistema de revista eletrônica com detectores de metais em todas as entradas do Allianz Parque. O investimento: R$ 2,3 milhões. A data de início: 1º de dezembro de 2025. O objetivo: impedir que garrafas, latas, foguetes ou qualquer outro objeto perigoso entre no estádio. Não é só segurança. É mudança de cultura.

Isso não é só um gasto. É um sinal. Um sinal de que o clube não quer mais ser o alvo de críticas por falhas de segurança. Um sinal de que, no futebol brasileiro, quem age com responsabilidade pode ser premiado — e não punido. O STJD, presidido pelo desembargador José Maria Marin desde janeiro de 2023, deverá arquivar o processo nos próximos 72 horas úteis, sem abrir inquérito. O torcedor, por sua vez, responde por injúria (Art. 140 do Código Penal) e por violação da Lei das Torcidas Organizadas (Lei 12.830/2013), podendo pegar até dois anos de detenção se condenado.

O que isso muda no futebol brasileiro?

O que isso muda no futebol brasileiro?

Este caso é um marco. Ele prova que a punição coletiva — como multar todo o clube por um ato individual — não resolve nada. Pelo contrário: incentiva a indiferença. Mas quando o clube assume o papel de agente de segurança, quando investe em tecnologia e coopera com a justiça, o sistema funciona. E isso pode ser replicado. O São Paulo, o Corinthians, o Flamengo — todos têm capacidade de fazer o mesmo. Só precisam querer.

Ao invés de gritar "torcida violenta", o Palmeiras mostrou que o problema está em quem faz o mal — e não em quem tenta impedir. E isso, no fim das contas, é o que o torcedor de verdade quer: um estádio seguro, sem medo, sem ódio. Só futebol.

Frequently Asked Questions

Por que o Palmeiras não foi multado, se um torcedor jogou algo no campo?

O STJD isenta clubes de punição quando comprovam ter identificado e encaminhado o autor do ato à justiça comum. Neste caso, o Palmeiras localizou o torcedor em menos de duas horas, entregou os dados à polícia e o homem já foi autuado e banido por seis meses. Isso segue precedentes estabelecidos desde 2020, quando o tribunal passou a valorizar a ação proativa dos clubes, não apenas a ocorrência do fato.

Qual é a diferença entre esse caso e o do Flamengo no Maracanã em 2024?

No caso do Flamengo, o clube não conseguiu identificar quem jogou o celular no árbitro, mesmo com câmeras e relatos. Por isso, foi multado em R$ 50 mil por falha na segurança. Já o Palmeiras não só identificou o autor como o entregou à justiça. A diferença está na eficiência da investigação interna — e no compromisso de agir antes da punição ser imposta.

O Allianz Parque corre risco de ser interditado por causa desse incidente?

Não. O STJD já deixou claro que a interdição de estádios só ocorre em casos de violência generalizada, repetida ou quando o clube demonstra negligência. Aqui, houve um único ato isolado, rapidamente solucionado. O estádio, com capacidade para 43.713 pessoas, permanece autorizado a receber jogos, inclusive na próxima rodada contra o Grêmio.

O que o torcedor que jogou a garrafa pode sofrer além do banimento?

Além do banimento por seis meses, ele responde criminalmente por injúria (Art. 140 do Código Penal) e por violar a Lei das Torcidas Organizadas (Lei 12.830/2013). Se condenado, pode pegar até dois anos de detenção. O processo está em andamento no Jecrim de São Paulo, e o Ministério Público já pediu a condenação por ato violento em local de esporte.

Por que o Palmeiras está investindo em detectores de metais agora?

O investimento de R$ 2,3 milhões em revista eletrônica, aprovado em 5 de novembro de 2025, é uma resposta direta a este incidente e a outros casos recentes. O objetivo é impedir que objetos perigosos entrem no estádio — não apenas para evitar punições, mas para proteger jogadores, árbitros e torcedores. É um passo para modernizar a segurança e alinhar o Allianz Parque aos padrões internacionais.

Este caso pode servir de modelo para outros clubes no Brasil?

Com certeza. O STJD já sinalizou que o modelo Palmeiras será usado como referência. Clubes que adotarem sistemas de identificação rápida, parceria com a polícia e investimento em tecnologia terão maior chance de evitar multas e interdições. É um novo padrão: não basta ter câmeras. É preciso ter equipe treinada, protocolo claro e coragem para agir. O futebol brasileiro precisa disso.