GP do Azerbaijão: Verstappen crava pole em classificação caótica com recorde de seis bandeiras vermelhas

GP do Azerbaijão: Verstappen crava pole em classificação caótica com recorde de seis bandeiras vermelhas set, 20 2025 -0 Comentários

Verstappen aproveita o caos e crava a pole em Baku

Recorde, chuva intermitente e nervos à flor da pele. No GP do Azerbaijão, Max Verstappen garantiu a pole com 1:41.117 em uma sessão que entrou para a história: foram seis bandeiras vermelhas, o maior número já visto em um treino classificatório da Fórmula 1. O holandês leu o momento, juntou volta limpa com pista mais aderente e colocou a Red Bull na frente para a corrida deste domingo.

O roteiro mais surpreendente veio logo atrás. Carlos Sainz, de Williams, encaixou um giro forte (1:41.595) e larga na primeira fila. A equipe, que costuma andar bem em pistas de baixa carga aerodinâmica, soube tirar proveito do vácuo e do asfalto mais frio. Liam Lawson colocou a Racing Bulls em terceiro (1:41.707), um resultado gigante para o neozelandês e para o time satélite, que também viu Yuki Tsunoda em sexto. Em Baku, onde a reta principal é interminável e a janela para errar é mínima, isso vale ouro.

A Mercedes saiu do sufoco com moral. Kimi Antonelli, ainda adolescente e vivendo o primeiro grande ano na F1, foi quarto com 1:41.717 e, pela primeira vez desde Miami, ficou à frente de George Russell, quinto com 1:42.070. Antonelli teve de remar no Q1 após perder a primeira volta por limite de pista, achou a temperatura ideal dos pneus no momento certo e segurou a pressão no Q3. A equipe reconheceu: não foi fácil gerenciar aquecimento de pneus e janelas de pista com tantas interrupções, mas o pacote tinha ritmo.

O clima foi o vilão da tarde. Ventos cruzados vinham e iam, a chuva aparecia em pontos da pista e sumia minutos depois. No traçado de rua de Baku, com muros a centímetros das rodas e a lendária seção do Castelo, qualquer rajada muda uma volta. Com a pista esfriando e aquecendo de forma desigual, os carros variavam aderência de curva para curva. Nessa gangorra, quem conseguia abrir volta com pneus na janela ideal se destacava. Quem pegava bandeira vermelha no meio da preparação, perdia tudo.

A sessão virou um para-e-anda. Alex Albon foi o primeiro a bater, tocando o muro e encerrando sua participação — vai largar em 20º. Nico Hülkenberg também não escapou no travado trecho da curva quatro: passou do ponto, tentou corrigir a trajetória e acertou as barreiras de frente. Oscar Piastri foi outra baixa pesada, com um impacto mais forte que interrompeu o trabalho da McLaren. Cada acidente resetava o relógio e bagunçava o plano de aquecimento de pneus e freios, o que derrubou muita volta boa pelo caminho.

As escolhas de pneus viraram um xadrez jogado em tempo real. No Q1, várias equipes apostaram no composto médio para sentir o piso e guardar macios para o fim. Quando a temperatura caiu e a chuva voltou a incomodar, o grid correu para o macio. Em Baku, a diferença entre um macio perfeito e um macio frio é quase um segundo. E, sim, essa janela abre e fecha em poucos minutos quando o vento vira a direção sobre o Mar Cáspio.

Outra marca registrada de Baku apareceu nos últimos minutos: trânsito e briga por vácuo. A longa reta final entrega ganho de velocidade real para quem pega o carro à frente na distância certa, mas empilhar 10 carros no mesmo trecho sempre cobra um preço. Alguns pilotos perderam voltas rápidas por tráfego nos setores 2 e 3, outros abortaram porque não encontraram espaço para preparar a volta com calma. Em dia de pista traiçoeira, qualquer detalhe vira diferença de duas filas no grid.

Por que Baku costuma ser um caos? O traçado de 6,003 km mistura curvas de 90° com trechos de alta em ruas estreitas. A seção do Castelo é uma armadilha: asfalto irregular, degraus, muro muito perto e zero área de escape. Já a reta principal, com mais de 2 km em aceleração total, força acertos de baixa carga que deixam o carro arisco no miolo. Somam-se frenagens fortíssimas para as curvas 1 e 3, com freadas onduladas, e a chance de travamento cresce. Com vento lateral, o carro “solta a traseira” quando menos se espera.

Verstappen, nesse cenário, fez o que precisava. Andou rápido o bastante para não depender do vácuo, escolheu pista livre e executou. A Red Bull não foi a mais reluzente nos trechos de baixa velocidade durante o fim de semana, mas compensou com estabilidade nas freadas e eficiência na reta. Com a pole, o holandês escapa das confusões da primeira curva — uma vantagem enorme quando metade do grid chega embalada atrás do DRS.

A Williams de Sainz chamou atenção pelo acerto enxuto e pela velocidade de reta. Em pistas de baixa arrasto, o carro azul costuma ganhar vida, e a equipe foi cirúrgica ao colocar o espanhol no traçado correto no minuto certo. A Racing Bulls seguiu a mesma cartilha: Lawson e Tsunoda se mantiveram fora dos erros, andaram no limite sem passar dele e colheram o resultado. Para um time que vive dos detalhes, levar dois carros ao top 6 em uma classificação dessas diz muito.

Do lado da Mercedes, o roteiro tem um ponto extra: Antonelli continua somando quilometragem pesada sem perder o brilho. A adaptação do italiano às exigências de aquecimento de pneus de Baku — saída dos boxes, construção de volta, temperatura correta nos freios — é coisa de piloto que já entendeu o jogo. Russell, ainda buscando o melhor feeling no setor final, ficou perto, mas admitiu que não se sentiu 100% ao longo do fim de semana.

Os números da sessão ajudam a entender o estrago: seis bandeiras vermelhas, temperaturas de pista flutuando, pista evoluindo a cada saída e poucos minutos “limpos” para voltas de verdade. Quando o cronômetro permitia, quem tinha dois jogos de macios se deu melhor. Quem queimou pneus cedo ficou sem munição no Q3. E, claro, houve quem viu a volta perfeita sumir por conta de um toque de roda no muro na saída de curva — clássico de Baku.

Para quem ficou pelo caminho, a tarefa no domingo é dura, mas não impossível. A pista tem duas zonas de DRS poderosas, e a reta principal permite ultrapassagens mesmo com diferenças pequenas de ritmo. Estratégia e sangue frio contam tanto quanto potência. Em Baku, safety car é quase regra. Uma bandeira em momento perfeito vira pit stop “grátis” e muda a corrida de qualquer um.

  • Pole: Max Verstappen (1:41.117)
  • 1ª fila: Carlos Sainz (Williams)
  • 2ª fila: Liam Lawson (Racing Bulls) e Kimi Antonelli (Mercedes)
  • Top 6: George Russell (Mercedes) e Yuki Tsunoda (Racing Bulls)
  • Principais incidentes: Albon no muro e larga em 20º; Hülkenberg bate na curva 4; Piastri abandona a classificação
  • Recorde de interrupções: seis bandeiras vermelhas ao longo das três fases
O que esperar da corrida: estratégia, DRS e olho no céu

O que esperar da corrida: estratégia, DRS e olho no céu

São 51 voltas, 306,049 km, com a volta lançada mais rápida do circuito ainda nas mãos de Charles Leclerc (1:43.009, 2019). A conta tática deve ficar entre uma e duas paradas, com tendência de stint mais longo em pneus médios ou duros — desgaste costuma ser moderado, mas temperatura e vento fazem diferença grande. Se o asfalto ficar mais frio, o macio pode ganhar espaço na primeira perna para quem quiser atacar posições logo de cara.

Chuva? A previsão alterna janelas secas com possibilidade de garoa, exatamente o que bagunçou a classificação. Se vier água, a decisão entre intermediários e slicks vira loteria de precisão. O piso de rua drena mal, as zebras ficam escorregadias e a borracha depositada na linha ideal vira sabão. Sem chuva, a palavra é tração: saída limpa das curvas 16 e 1 para ganhar velocidade e abrir asa no ponto certo.

Três fatores podem decidir a prova: aquecimento de pneus, gestão de freios e vácuo. Com a longa reta, é fácil esquentar demais os freios na sequência de freadas fortes. Quem tiver pressão de frenagem mais estável vai travar menos e preservar pneus dianteiros. No calor da disputa, evitar “flat spot” pode valer uma parada a menos.

Outra carta é o gerenciamento de energia. Baku exige escolha clara: gastar bateria na reta para atacar/defender ou guardar para o setor intermediário e sair mais forte para a última curva. Quem cravar a sincronização entre recarga, consumo e DRS ganha metros cruciais antes da freada da curva 1. E se houver safety car tardio, o pelotão compacto transforma a relargada em mini-classificação, com todos buscando ar limpo e pneus na janela certa.

Verstappen larga como favorito natural. Largar por dentro, controlar o ponto de frenagem e evitar mergulhos por fora é o plano básico. Mas a primeira fila com Sainz promete jogo duro: a Williams vem rápida em linha reta, e a distância até a curva 1 é longa. Lawson, na terceira posição, tem a chance rara de atacar sem grandes riscos — se segurar a posição até o fim da primeira volta, entra na corrida pela vitória se a estratégia sorrir.

Antonelli e Russell podem trabalhar em dupla. Em Baku, undercut funciona quando o tráfego coopera. Parar uma volta antes com pista livre pode render dois, três segundos. O problema é voltar no meio de carros mais lentos e perder tudo em um setor travado. O overcut também entra no jogo quando a pista evolui rápido — ficar mais tempo com pneus quentes numa janela de menos trânsito pode empurrar o piloto para frente.

Fique de olho nos detalhes de alinhamento no grid. Por causa da inclinação sutil em alguns boxes, é fácil queimar a largada ou ficar preso em patinagem. A embreagem sensível já custou corridas a veteranos ali. E, sim, a largada em Baku costuma virar triagem: quem passa ileso pela curva 1 colhe os frutos mais tarde.

Em termos de ritmo de corrida, a diferença entre carros que apostaram em baixa carga e os que preferiram mais downforce vai aparecer no segundo stint. Quem for rápido de reta se defende melhor, mas paga com pneus nas curvas de 90°. Quem tiver mais asa pode sofrer menos com travamentos e aquecer melhor os pneus — vantagem se as nuvens voltarem a esfriar o asfalto.

Resumindo o tabuleiro: Verstappen na pole com espaço para controlar, Sainz e a Williams com velocidade para atacar, Lawson e Tsunoda com uma chance real de pódio se evitarem confusão, e a Mercedes com uma tarde de gestão inteligente para transformar posições fortes em pontos pesados. Com histórico de safety car alto e clima instável, Baku prepara mais uma corrida onde a paciência vale tanto quanto a ousadia. Quem errar menos, vence.

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