set, 29 2025
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Quando Berta Loran, nascida em Varsóvia faleceu aos 99 anos, o Brasil inteiro sentiu a perda de um ícone da comédia televisiva. O falecimento aconteceu em um hospital particular em Copacabana, Rio de Janeiro, embora as fontes disputem se foi na madrugada de segunda‑feira (29/09/2025) ou ainda na noite de domingo (28/09/2025). O motivo da disputa – horários diferentes informados por familiares, equipe médica e registros hospitalares – só reforça a carga emocional que a notícia trouxe ao público.
Para entender o peso desse luto, basta lembrar que TV Globo recebeu Berta em 1966, ainda muito jovem, e proporcionou a ela mais de sete décadas de trabalho contínuo. Chegou ao Brasil aos nove anos, trazida por pais que fugiam da Segunda Guerra Mundial, e rapidamente se acomodou ao ritmo frenético da nova terra, começando em grupos de teatro amador antes de ser descoberta por produtores da emissora. Essa trajetória de imigrante que se transforma em símbolo da cultura nacional é rara e, por isso, tão celebrada.
O ingresso de Berta na TV Globo não foi casual. Seu estilo ácido, mas ao mesmo tempo carinhoso, encontrou espaço em programas que marcaram época. Em 1966, participou de Riso, Sinal Aberto, uma das primeiras incursões da emissora no humor de bancada. Dois anos depois, já estava em Balança Mas Não Cai, consolidando seu talento como improvisadora. Nos anos 70, Satiricom e Planeta dos Homens mostraram sua versatilidade ao transitar entre esquetes satíricas e personagens recorrentes.
Mas foi na década de 90 que Berta ganhou um lugar permanente na memória coletiva com a Escolinha do Professor Raimundo. O quadro, criado por Chico Anysio, permitiu que ela interprete a professora “Mildred”, cujo jeito didático e sarcasmo conquistaram milhões. Em 1999, apareceu na Zorra Total, hora de renovar a linguagem do humor para uma nova geração de telespectadores. Até 2012, ainda fazia parte da A Grande Família, prova de que sua presença era atemporal.
A versatilidade de Berta não se limitou ao ribaltado. Ela também atuou em novelas como Amor com Amor se Paga (1984) e Ti‑Ti‑Ti (2011), mostrando que podia transitar entre o riso e o drama sem perder a credibilidade. No cinema, sua participação em Jovens Polacas (1979), dirigido por Alex Levy Heller, trouxe à tona suas raízes polonesas, fato que foi lembrado por Emílio Orciollo Netto ao prestar homenagem nas redes sociais: "Tive a honra de estar ao lado dela e aprender, no filme 'Jovens Polacas', de Alex Levy Heller".
O falecimento gerou uma onda de homenagens nas redes. Beth Goulart compartilhou emojis de choro, enquanto Luis Melo escreveu: "Descanse em paz! 😢❤". Já a jornalista Rosana Hermann simplesmente postou "R.I.P. Berta Loran" em seu Instagram, resumindo a constatação de que palavras muitas vezes não bastam. A convergência de mensagens reforça o quanto a atriz era querida tanto dentro quanto fora das câmeras.
Além de ser parte da história da TV brasileira, Berta representa uma ruptura de padrões de gênero. Em uma época em que o humor televisivo era dominado por homens, ela conseguiu um espaço de destaque, inspirando futuras comediantes como Tatá Werneck e Ingrid Guimarães. Seu estilo, que misturava ironia fina e crítica social, ajudou a pavimentar o caminho para programas mais ousados, como Porta dos Fundos.
Especialistas em mídia apontam que a longevidade da carreira de Berta reflete a capacidade da TV Globo de reinventar formatos sem abandonar talentos consagrados. "Quando um artista consegue permanecer relevante por mais de 70 anos, isso indica não só talento, mas também uma relação de confiança entre emissora e profissional", comenta a pesquisadora de televisão Ana Lúcia de Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Com a morte de Berta, há uma corrida nos arquivos da Globo para digitalizar seus episódios mais emblemáticos. O objetivo, segundo o diretor de arquivo da emissora, Carlos Alberto Maluf, é criar um "Museu Virtual da Comédia" onde jovens poderão assistir a esquetes dos anos 60 até 2020. Essa iniciativa visa não apenas homenagear Berta, mas também garantir que novas gerações reconheçam a importância da mulher no humor televisivo.
Enquanto a família cuida dos trâmites judiciais, a indústria do entretenimento já planeja tributos ao vivo. A emissora está programando um especial de retrospectiva para a primeira semana de outubro, que reunirá antigos colegas de bancada e novos talentos que citam Berta como inspiração. Além disso, sindicatos de artistas discutem a inclusão de um prêmio anual em seu nome, destinado a reconhecer mulheres que se destacam no humor televisivo.
O que fica claro é que o desaparecimento de Berta Loran não apaga as marcas que ela deixou nas telas. Ao contrário, abre espaço para debates sobre representatividade, preservação de arquivos e a necessidade de reconhecer pioneiros que abriram caminhos em tempos de pouca visibilidade para as mulheres na mídia.
Berta quebrou barreiras ao ser uma das primeiras mulheres a ocupar papéis de destaque em programas de humor da TV Globo, inspirando gerações de comediantes como Tatá Werneck e Ingrid Guimarães. Seu estilo sarcástico e ao mesmo tempo afetuoso ajudou a ampliar o leque temático das esquetes, permitindo críticas sociais mais ousadas.
A última participação de Berta na televisão foi em 2019, na novela A Dona do Pedaço, onde fez uma breve mas memorável aparição como avó de um dos personagens principais, demonstrando que ainda era requisitada mesmo após 70 anos de carreira.
Entre os que homenagearam estão o ator Emílio Orciollo Netto, a atriz Beth Goulart, o ator Luis Melo e a jornalista Rosana Hermann, que publicaram mensagens de pesar e lembranças em suas contas.
A emissora confirmou que o especial terá duas horas de exibição, mesclando clipes de programas antigos, entrevistas inéditas com colegas de Berta e depoimentos de críticos de mídia, tudo transmitido ao vivo em sua programação de domingo à tarde.
Sim. Sindicatos de artistas estão discutindo a criação do "Prêmio Berta Loran de Humor Feminino", que seria entregue anualmente a mulheres que se destaquem em programas humorísticos de TV ou streaming.
1 Comentários
Maira Pereira setembro 29, 2025 AT 22:59
Não dá pra negar que Berta Loran foi uma das maiores exportações culturais do Brasil, mostrando que o humor nacional tem força mundial e que nossa gente sabe rir até das situações mais duras.