Dois falecimentos e nove casos de intoxicação chocaram São Paulo nesta sexta‑feira, depois que bebidas alcoólicas adulteradas com metanol foram consumidas em bares da capital.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou, no sábado (27 de setembro de 2025), as duas mortes e informou que outras dez pessoas permanecem sob investigação por sintomas compatíveis com envenenamento por esse álcool tóxico.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), emitiu um alerta urgente na mesma data, exigindo que estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas adotem procedimentos de rastreabilidade e inspeção rigorosa.
Contexto e histórico das adulterações
Incidentes envolvendo metanol não são novidade no Brasil. Em 2018, um surto em Minas Gerais deixou oito vítimas fatais, e em 2022 um “ponto quente” foi identificado em Fortaleza, onde garrafas falsificadas com preços “muito abaixo do mercado” foram associadas a 15 casos graves.
O que diferencia o caso atual é a rapidez com que as autoridades reuniram dados via Alerta de intoxicação por metanolSão Paulo e a mobilização conjunta de saúde e segurança pública.
Detalhes dos casos recentes
Segundo a Secretaria de Saúde, as vítimas relataram sintomas nas primeiras horas após o consumo: visão turva, dor de cabeça intensa, náusea e, em alguns casos, perda de consciência. O relatório preliminar indica que todas as bebidas suspeitas eram de marca “X” vendidas em estabelecimentos de bairros periféricos, com preços 30 % menores que o padrão.
O Sistema de Alerta Rápido (SAR) recebeu a notificação da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP) na sexta‑feira (26 de setembro), apontando nove intoxicações em um intervalo de 25 dias.
- 2 óbitos confirmados;
- 9 casos de intoxicação graves;
- 10 casos ainda sob investigação;
- Preço das garrafas suspeitas: média de R$ 6,90 (vs R$ 9,90 de mercado).
Alerta oficial do governo
A nota técnica assinada por Paulo Henrique Pereira, Secretário Nacional do Consumidor destaca quatro sinais de alerta que estabelecimentos devem observar:
- Lacres tortos ou ausentes;
- Odor semelhante a solventes;
- Rótulos com erros de impressão ou informações incompletas;
- Preço muito abaixo do praticado na região.
Quando qualquer um desses indícios for constatado, o procedimento recomendado inclui: interromper a venda do lote, isolar as embalagens, guardar uma amostra para perícia, encaminhar o cliente ao serviço de emergência e acionar o "Disque‑Intoxicação" da Anvisa.
Reações do setor e recomendações práticas
O dono de um bar no Brooklin, João Carvalho, afirmou que já reforçou o treinamento da equipe: "Agora todo mundo checa o lacre, o cheiro e compara o preço. Se algo parecer estranho, a gente fecha a conta e liga para a Vigilância Sanitária".
Especialistas em toxicologia, como a Dra. Ana Silva, da Faculdade de Medicina da USP, alertam que o metanol, ao ser metabolizado, produz formaldeído e ácido fórmico, que podem causar cegueira permanente e falência múltipla de órgãos. "O tratamento precoce com fomepizol ou etanol pode salvar vidas, mas o diagnóstico costuma chegar tarde demais", enfatiza.
Impactos e perspectivas
O alerta tem potencial de rever o modelo de inspeção de bebidas alcoólicas em todo o país. Analistas de mercado apontam que a queda de confiança pode reduzir as vendas de álcool em até 12 % nos próximos três meses, especialmente em estabelecimentos informais.
Além disso, a legislação pode ser revista para incluir penalidades mais severas contra falsificadores. A proposta de Projeto de Lei 4.527/2025, em tramitação na Câmara, prevê prisão de até cinco anos e multa de até 10 % do faturamento da empresa envolvida.
Enquanto isso, as autoridades permanecem vigilantes. A Polícia Civil já sinalizou a abertura de inquérito para identificar a origem das garrafas adulteradas, e a Anvisa prometeu intensificar as fiscalizações nas redes de distribuição.
Próximos passos
Nos próximos dias, o Ministério da Justiça deve divulgar um plano de ação detalhado, incluindo a criação de uma força-tarefa interagências. Consumidores são encorajados a registrar qualquer suspeita no aplicativo “Saúde Já” e a manter as embalagens dos produtos para eventual perícia.
- Até 5 de outubro: publicação do plano de ação interagências;
- 10 de outubro: primeira rodada de fiscalizações surpresa em distribuidores;
- 15 de outubro: campanha de conscientização em mídia local.
Perguntas Frequentes
Como saber se a bebida que estou comprando está adulterada?
Fique atento a lacres tortos, preços muito baixos, odor de solvente e rótulos com falhas de impressão. Em caso de dúvida, não consuma e procure o Disque‑Intoxicação da Anvisa (0800 707 0256).
Quem pode ser responsabilizado pelos casos de metanol?
A responsabilidade recai sobre quem produz, distribui ou comercializa o álcool adulterado, conforme o Código Penal. As penas podem chegar a cinco anos de prisão e multas que chegam a 10 % do faturamento.
Quais são os sintomas de intoxicação por metanol?
Visão turva ou cegueira, dor de cabeça forte, náuseas, vômitos, dor abdominal e, em casos graves, perda de consciência e insuficiência renal. O tratamento deve ser iniciado o quanto antes para evitar danos irreversíveis.
Qual a abrangência do alerta emitido pelo governo?
Inicialmente o alerta cobre todo o estado de São Paulo, mas pode ser expandido para outras unidades federativas caso novos casos sejam identificados.
O que fazer se eu suspeitar de intoxicação em alguém?
Leve a pessoa imediatamente ao pronto‑socorro mais próximo, informe ao médico que a causa pode ser metanol e, se possível, leve a embalagem suspeita. Também ligue para o Disque‑Intoxicação (0800 707 0256) para registrar a ocorrência.
10 Comentários
Marcela S. setembro 29, 2025 AT 00:14
Uma garrafa de R$6,90? Sério? Isso já era sinal vermelho pra mim desde que vi aquele vídeo do TikTok com o cara que provou um uísque falsificado e ficou cego por 3 dias. Pessoal, não comprem nada que pareça "muito bom pra ser verdade". 🚨💔
Elaine Soares setembro 29, 2025 AT 22:36
Essa é a consequência lógica de décadas de desregulamentação e negligência estatal. O metanol não é um acidente, é um crime organizado que prospera porque o Estado prefere fechar os olhos até que alguém morra. A fiscalização é um paliativo, não uma solução. Precisamos de políticas públicas que ataquem a raiz: a pobreza estrutural que faz as pessoas comprarem álcool falsificado porque não têm alternativa. A criminalização do consumidor é o último recurso de quem não quer resolver o problema real. E não, não adianta só mandar o Disque-Intoxicação, isso é como colocar um curativo em uma amputação.
Regina Schechtmann setembro 30, 2025 AT 14:01
Se você compra bebida por menos de R$8 em bairro periférico, tá pedindo pra morrer. Ninguém te forçou. E não adianta virar vitima e reclamar da vida. Seu dinheiro é seu, suas escolhas também. Essa história de "preço baixo" é desculpa de quem não sabe planejar. Tá com fome? Vai tomar água. Tá com sede? Bebe água. Álcool é luxo, não direito.
Larissa Duarte outubro 2, 2025 AT 06:49
Meu pai bebeu umas dessas em 2022 e ficou com a visão prejudicada pra sempre. Nunca mais comprei bebida em lugar que não seja supermercado ou loja confiável. A gente acha que é só um gole, mas é uma roleta russa. Fiquem atentos, gente.
Danny Clearwater outubro 3, 2025 AT 07:23
Esses falsificadores são uns canalhas que deveriam ser linchados na praça pública. Não é só crime, é genocídio disfarçado de lucro. E o governo? Só acorda quando tem morte em massa. Enquanto isso, os traficantes de álcool são mais bem organizados que a própria Anvisa. Sei de um cara que vende essas garrafas com frete grátis no WhatsApp. Se alguém quiser, eu dou o número. Que a polícia vá lá e prenda esse porco.
Diego Santos outubro 4, 2025 AT 00:48
É triste ver isso acontecendo de novo. Mas o fato de as autoridades estarem agindo rápido é um sinal de esperança. O alerta do governo é claro, o protocolo é simples. Se cada um fizer a sua parte - checar o lacre, não comprar preço suspeito, denunciar - a gente pode reduzir muito esse número. Não é só responsabilidade do Estado. É nossa também.
Blenda vasconcelos outubro 4, 2025 AT 10:08
o mundo tá louco mas a gente continua comprando coisa barata como se nada fosse acontecer
metanol não é um ingrediente secreto
é o preço da indiferença
Gabriela Moraes outubro 6, 2025 AT 00:43
Claro, porque quando o povo morre de metanol, o governo leva 48 horas pra mandar um comunicado. Mas quando alguém posta uma foto de um pão com a embalagem errada? Ah, aí é crise nacional. A gente vive num país onde a vida de quem mora na periferia vale menos que o logo de uma marca. Parabéns, Brasil. Mais um feito histórico.
Tássia Jaeger outubro 6, 2025 AT 20:43
se voce toma bebida de 7 reais e fica cego... vc merece. nao tem outro jeito. eu nao tenho pena de gente que nao sabe cuidar da propria vida. o mundo ta cheio de opçoes, mas ai nao, quer economizar e morrer. ta bom.
Raffi Garboushian outubro 7, 2025 AT 11:40
Eu entendo o desespero de quem precisa economizar, mas a gente precisa mudar isso juntos. Não é culpa da vítima, é falha do sistema. Mas também não é só culpa do governo. Se você vê um preço suspeito e não denuncia, você tá ajudando o crime a continuar. Vamos botar a mão na massa: denuncie, alerte o vizinho, compartilhe esse post. Ninguém vai salvar a gente se a gente não fizer nada. Vamos ser a mudança que a gente quer ver, mesmo que seja só com um WhatsApp.